Broxei, por quê?
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Broxei, por quê?

Broxei, por quê?

Pois é meu caro, falar de pinto é falar de tudo, menos pinto.

Dizem que os homens pensam com a cabeça de baixo, eu discordo, pois a cabeça de baixo tem uma certa sabedoria que a cabeça de cima muitas vezes não tem. O pinto depende de uma fina sintonia com a mente do seu dono, já que não é um músculo como os outros, que reage pela força de uma vontade mecânica consciente.

Ereção tem muito a ver com desejo, relaxamento, criatividade, presença, paixão e, por que não dizer, humildade.

Sim, orgulho e presunção fazem o pau cair como uma azeitona murcha, enquanto a humildade de um homem o deixa duro como uma rocha.

Existem causas mais óbvias e mais ocultas para a famosa broxada. Vou falar por ordem de profundidade, da mais aparente até a mais inconsciente, que podem ou não existir juntas em um mesmo caso.

1. Mau treino

A iniciação sexual da maior parte dos garotos acontece com a masturbação, e nela ele tenta firmar sua fantasia pessoal. Imagens fragmentadas de mulheres diversas vão compondo sua mente frágil, que literalmente transforma mulheres inteiras em fragmentos de estímulos mentais precários. Agora imagine um garoto acostumado a desejar imagens mastigadas e sem vida em suas jornadas onânicas se deparando com uma mulher de verdade.

Aquele cara acostumado a se debater com revistas e filminhos pornôs (que são uma amostra absolutamente falsa da realidade sexual) se depara com uma complexidade encantadora em forma de gente, chamada mulher. Não há coração que resista.

Os anos de mau uso do seu pinto, acostumado a masturbações fechadas no seu mundinho de ritmo e "necessidades" particulares, habitaram mal o timming certo de uma concentração relaxada necessária para sustentar o mastro em pé.

2. Medo da ejaculação precoce

Por decorrência de uma mentalidade instrumental, que vê a mulher como um instrumento para o seu desejo e esquece de valorizar um mínimo de interação e afetividade, muitos homens avançam com muita sede ao pote. Sede demais, e não de uma forma boa.

Essa afobação misturada com ansiedade causa uma sobrecarga de desejo que quase "obriga" o corpo a desaguar numa ejaculação precipitada e fora de hora. Exatamente pelo fato de que só a sua mente está ali, apressada, autocentrada e preocupada com desempenho, o seu corpo te boicota.

É como se o pinto dissesse:

(Voz de pinto)
"Ei. Amigo. Olhe para a garota, cara. Pare de imaginar e sinta a alegria, o toque, o cheiro e o gosto dela. Se você não sair da sua mente e se voltar ao corpo, eu é que caio fora. Vacilão."

Normalmente a mente sucumbe nessa pressa desorientada, e, por medo de gozar rápido, o sujeito broxa.

3. Muita cobrança

A indústria do Viagra nunca foi tão próspera, principalmente entre jovens temerosos de parecerem menos vorazes do que o suposto ideal de homem garanhão propõe. Essa fantasia idealizada de si mesmo é um tiro no próprio pé e cobra caro por tanta prepotência. Ou preimpotência?

No auge do egocentrismo de quem quer se autoafirmar por meio da sexualidade viril e de transas intermináveis, a broxada é quase uma consequência natural. Sob risco de parecer fraco, ele não pode falhar, e exatamente por essa pressão cria as condições para a ansiedade e a falta de concentração se instalarem. Aí é que falha mesmo.

O homem que está centrado em si ainda não entendeu que o sexo é uma interação entre duas pessoas prontas para descobrir caminhos que não têm trilha certa. É uma jornada em que cada um começa com seu kit básico de sobrevivência, mas vai aprendendo a improvisar movimentos criativos à medida que as necessidades e oportunidades aparecem.

Temos uma rachadura na mentalidade brasileira: achamos que sexo é assunto instintivo e natural. Além disso, padecemos de "coitocentrismo": desconhecemos que penetrar a parceira não é o acontecimento principal, e o pinto não é a estrela exclusiva do show. A maior parte dos homens, e muitas mulheres, também, colocam uma ênfase exagerada no pinto duro e se esquecem que dedos, línguas e o corpo como um todo são uma fonte inesgotável de sexualidade.

Os casais com mais tempo de relacionamento desenvolvem outras formas de interação sexual para além do tesão imediato, já que o ponto de fervura é mais demorado. Então não é qualquer calorzinho que precipita o sexo, e sim interações mais sofisticadas . que muitos homens simplesmente ignoram por achar que bastaria um pinto duro.

4. Sobrecarga mental

De modo geral, nós homens somos educados de forma exteriorizada e sem muito repertório emocional. Isso nos faz ter uma praticidade essencialmente racional e pouco emocional/corporal. Se a excitação e o sexo dependem de um corpo ativo e presente, não basta um punhado de imaginações para que o corpo reaja.

Na hora do sexo, se o homem não está fisicamente aterrado no seu corpo e tem a energia dividida com preocupações, trabalho, desempenho na vida e perda de potência social, a broxada é certeira. Se ele está emocionalmente dividido com outra mulher ou simplesmente se sente impotente para ativar o desejo da parceira, sua presença é fraca.

Muitos homens ficam excessivamente preocupados mentalmente em agradar a mulher que se desconectam do tesão que flui pelo seu corpo, não respiram, olham para a mulher e se fecham na mente conturbada.

O desconhecimento do que ativa sua parceira também prejudica nesse sentido, já que não entendeu que a sexualidade para a mulher começa muito antes da cama e termina muito depois.

5. Medo da homossexualidade

A sexualidade humana não é um caixote fechado. Com graus mais ou menos evidentes, o espectro da sexualidade varia entre muitos tons. Na maior parte das vezes eles passam por um filtro da consciência, que avalia o que parece mais adequado ou não manifestar, segundo os (pre)conceitos vigentes.

A afeto por pessoas do mesmo sexo, que viemos a chamar de homoafetividade, está presente em maior ou menor grau em qualquer pessoa, embora não necessariamente de forma sexual (você tem afeto pelo seu pai ou seus amigos, não?).

Homens chamados heterossexuais, vez ou outra, admitindo ou não, experimentam sentimentos homoafetivos quando projetam em figuras públicas e celebridades o macho-alfa que gostariam de ser. É uma experiência ambígua e até perturbadora para alguns saber-se fascinado pelo jogador do time favorito como quem idolatra apaixonadamente uma figura do mesmo sexo.

Os machões repudiarão esse tipo de ideia com veemência alegando-se imunes a qualquer sentimento afetivo por outro homem, distinguindo radicalmente o amor do bróders do desejo sexual. Muitos daqueles que mais têm necessidade de provar e reafirmar algum tipo de "valor" esteriotipadamente masculinizado podem estar ocultando de si desejos que consideram (preconceituosamente) inaceitáveis, reprováveis e proibidos. Agem com uma contrafobia de si mesmos em que renegam qualquer tipo de impulso fora de seu controle ou visões pessoais limitadas.

Quem está se afogando é que implora por ar (e fala de ar) o tempo todo; para quem está em paz com sua respiração o ar nem é um questionamento. Digo o mesmo da sexualidade.

Essa nuvem que pode estar sobrevoando o inconsciente dos que reafirmam sem parar sua masculinidade (don juans e garanhões "convictos") é um tipo de sentimento obscuro até para seu portador, que pode nunca vir à tona racionalmente, mas está ali presente, se expressando no corpo flácido e "caçoando" de sua virilidade quando ela tem que levantar o mastro da bandeira e "provar" que é hetero-campeão.

Alguns recusam uma vida mais plena com a homossexualidade camuflando-se em relacionamentos de aparência e praticamente assexuados.

6. Medo do feminino

O receio da desaprovação feminina é um dos mais comuns e mais negados pelos homens. Quase toda nova mulher que surge na vida de um homem remete inconscientemente às fantasias primitivas de todas as mulheres com quem ele já se envolveu afetiva e sexualmente. Cada uma compôs uma nota na sua música-tema emocional, e a primeira nota feminina registrada no corpo de um homem é de sua mãe (ou cuidadora).

Se essa relação foi marcada por ansiedade exagerada, pressão para agradar, medo excessivo de perder o afeto e confusão emocional, a marca deixada no psiquismo do homem é da mulher como uma figura ameaçadora.

Imagino até que a tentativa vital do homem se sobrepor às mulheres advenha desse ressentimento primitivo de submissão ao seio materno. Essa voz doce que embalou seu berço com amor tinha um tom simultaneamente onipotente. Sua existência dependia dela e toda a autoimagem que ele construiu de si mesmo foi pautada por essa relação, que é reencenada a cada novo contato com as mulheres.

Qualquer mulher que esse homem julgue poderosa (por ser mais bonita, interessante, inteligente, rica ou sociável) quando adulto pode remeter a uma imagem que evoca em suas fibras mais ocultas o mesmo amor/pânico do filho de corpo frágil, vulnerável e rendido em relação à mãe. Não é uma surpresa que muitos homens recuam diante de uma mulher cheia de iniciativa e poder pessoal. É dessa condição primitiva de jogos de poder marcadamente infantil que ele precisa se libertar para se tornar um homem adulto e que não vê sua mulher como uma competidora, mas uma parceira de vida e de cama.

Não é com o pinto que o homem se debate e broxa, mas com a autoimagem megalomaníaca que alimenta de si mesmo e que não consegue carregar e suportar.

* * *


fonte: sobreavida

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